quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Puebla e a sua opção preferencial

Puebla a opção preferencial por Jesus Cristo.

De tanto ouvir o governador falar sobre o documento ou Carta de Puebla, procurei o texto original e resolvi estudá-lo. Trata-se de documento denso, mais denso que leite condensado, enjoativo se você não tiver base. Todavia, uma vez começado, torna-se saboroso, e é riquíssimo, embora ainda não o tenha lido inteiro. Sugiro ao Governador que o leia novamente, pois dada a algumas de suas constantes afirmações, julgo que o mais importante lhe passou despercebido. É um documento pastoral, destinado a evangelização na America de língua latina, conservador e profundamente doutrinário.
O que mais me chamou a atenção foi o fato, imediato, da percepção de sua leitura inicial, de que o documento não faz uma opção preferencial pelos pobres, mas pela pobreza, o que em ultima analise é algo bem distinto. A primeira diz respeito ao socorro aos pobres, a Segunda diz respeito ao desapego, como via de distribuição mais eqüitativa dos bens e dons entre as pessoas. Como seguir a Cristo pobre, nascido em uma manjedoura, carpinteiro, e operário, Rabi e Rei, embora de verdadeira origem nobre, sendo da Casa do Rei David, isto comprova virtuosa origem, e é, portanto a principal missão da evangelização. Como e porque seguir a Cristo. Nesse sentido o documento de Puebla faz uma opção preferencial pela pobreza de Cristo Jesus, filho de Deus que se humilha, para resgatar, ensinar a viver em sociedade partilhada ao comum dos homens. A pobreza vivida cura, pois humilha o orgulho humano, rebaixando as tiranias da alma, e por conseqüência as tiranias do domínio, as tiranias sociais colocando a pequenez humana, frente a frente como sua pequenez, mais adequadamente comparada em escala ao enigma da criação e do Universo, irmanado por essa imagem inconteste, os maiores e mais sábios homens, na sua pequenez cósmica e na proximidade ínfima, orgânica e corporal, miseráveis nas suas paixões, e nos seus limites, comparando-os ombro a ombro aos humildes e pobres, na sua dependência aos acontecimentos cósmicos, colocando-os, todos, na sua dependência direta à divina providência ou divina Sabedoria, sem a qual o homem nada seria na sua destinação e cegueira diante do futuro.
O homem não é o construtor do homem, nem destinado a ser o seu dominador, é quando muito, um passageiro, um ser que partilha do planeta como se esse fosse uma nave espacial, governada por mão invisível, à qual devemos confiar nossas vidas, que se move com desconhecido e repetitivo destino. Somos, portanto, passageiros do planeta sem que nele haja entre os homens quem possa apresentar-se como piloto. Isso não esta escrito no documento, mas é como eu me introduzi consolado naquele precioso organizado e complexo texto.
Outro ponto de importância é o alerta, sobre o concretismo e a necessária fidelidade, na evangelização, aos ensinamentos de Jesus Cristo entregues ao Magistério Eclesial. Um apelo para que a criatividade pessoal, não afaste da verdade. Nesse ponto, todos os políticos, que propagam o documento, distanciam-se da verdade doutrinaria, em nome, muitas vezes a fixando-se num dos temas, e pondo-se a serviço de algum núcleo simpático e apelativo, de pobres, todavia o documento, é preciso que se diga, pede mais, pede pobreza e simplicidade, coerência, pede docilidade dos governantes diante de Deus, pois de nada servirá o serviço que afaste de Cristo Rei, que desceu do pedestal, para mostrar principalmente aos governantes do mundo os seus graves erros.
Assim, farei aos poucos, se me permitirem, e houver interesse, uma analise do documento, propondo a mim e a quem leia com retidão, correções de rumo, e como diz o Requião, ajustes de conduta, para se possível, do discurso de cada um de nós, fazer realidade, a valoração do pobre, não da igualdade como diz Santo Agostinho[1], mas nos fazer mais próximos do mais nobre dos pobres que o mundo conheceu, e por ele, fazer a Opção Preferencial sem demagogia e com simplicidade. Porque como todos sabem, os pobres têm sustentado, na sua dor e paciência, o mundo rico, e na maioria das vezes são justamente os pobres que vêm em socorro dos governantes, quando não, dos próprios ricos.


Wallace Requião de Mello e Silva.

[1] Santo Agostinho: “Ela diz aos reis que se dediquem aos povos, diz aos povos que se submetam aos reis, mostrando assim que nem todos os homens têm todos os direitos, mas que a caridade (o amor) é devida a todos, e a INJUSTIÇA a ninguém”. De moribus Eccl.

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