Loucura e lixo.
Imagine a seguinte situação. Um indivíduo caminha à sua frente pela calçada, e a cada lata de lixo que encontra, para, e lança cinqüenta centavos dentro dela. Noutras, lança no lixo um real, noutras ainda, setenta centavos, e assim vai, alegremente, andando pelas ruas da cidade. Você que vem atras pensa em catar aquele dinheiro todo, que desperdício, mas envergonhado não o faz. Pensa: que louco esse cara jogando dinheiro fora. Deve ser um daqueles que rasga nota de cem e come as próprias fezes, um louco completo.
Certamente, você que imaginou a cena, concorda que parece loucura, loucura daquelas de amarrar em camisa de força, no entanto, é o que você vê todos os dias, milhares de vezes, milhões de pessoas fazendo o mesmo, incluindo você mesmo, sem se dar conta, nem de seus atos, nem da loucura que estamos vivendo.
Fiz amizade com um desenhista industrial que tendo trabalhado na produção visual de embalagens me alertou para o fato real de que muitas vezes a embalagem custa ate três vezes o valor da mercadoria que embala. Por exemplo: você compra uns poucos gramos de farinha temperada, como no caso de salgadinhos, e lança no lixo sua embalagem, impressa, multicromada, sobre papel de alumínio, que recebe ainda uma cobertura plástica. O valor da embalagem é maior do que o produto. Ou seja, você joga no lixo preciosos centavos de cada real gasto como balas, sorvetes, pacotes de leite, garrafas de refrigerantes, etc, e tal. Você joga dinheiro suado no lixo.
Produzimos um lixo desnecessário, jogamos no lixo dinheiro suado, e em vez de resolvermos o problema pela raiz, na metodologia de produção e comercialização, ensinamos as “pessoas” a perder a vergonha de serem “catadores e recicladores” de lixo, “devolvendo” ao sistema esse dinheiro que nos pertence, por nós irresponsavelmente jogados no lixo, às indústrias (ávidas), para que novamente nos explorem. Não queremos enxergar e encarar o problema de frente, não queremos mudar o paradigma industrial e comercial, mas queremos fingir que há uma função social na coleta, na recuperação, na separação e reciclagem do lixo, que novamente, aos poucos, vai se tornando matéria prima, para mais uma indústria de ponta, monopolizada, altamente capitalizada que nos venderá uma segunda vez, e quiçá uma terceira, o nosso próprio dinheiro, gerando assim, novos tipos de resíduo industrial, cada vez mais tóxicos. Mais volumosos mais desnecessários. Loucura, daquelas de rasgar notas de cem Reais todos os meses, picá-las, e lançá-las nas lixeiras, e logo, logo, já não estaremos mais reutilizando do lixo os resíduos recicláveis não orgânicos, mas estaremos comendo lixo em compostagem (pois já existem rações de lixo industrial de beneficiamento de alimentos), e ate fezes, (já há quem a fume) que é em fim, o resultado e a moral do “reaproveitamento do lixo de nosso corpo”; enganoso e enganador estratagema comercial, tudo para não mexer com o interesse ávido do comercio e da indústria. Ou seja, estamos loucos de amarrar, loucos de rasgar dinheiro e jogar no lixo,... E comer fezes.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Deus é um só!
Há 8 anos
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