quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O sábado.

O Sábado.

Por Wallace Requião de Mello e Silva

Um canal de TV, recentemente, transmitiu para todo o Brasil um interessante programa sobre o Sábado. A TV utilizou-se da Denominação Adventista (sabatistas), para introduzir e discutir o tema.
Aproveitando o momento histórico que estamos vivendo, ou seja, o momento da tolerância religiosa e das opiniões razoáveis quer lembrar aqui, sem rodeios, alguns detalhes sobre o “Sábado” dando a minha opinião firme, embora, sempre respeitosa.
O Sábado, ou Shabat (Shabbath), sétimo dia do calendário Judeu, não é, ou não deveria ser uma data cristã. Na verdade é um “Dia Santificado” e fundamental para e pela tradição judaica, dia do descanso na tradição israelita, lido na Tradição Mosaica e fundado em (Dt 5,12- Lv 23, 3-em Ex. 23,12- Ex 31,12 17- e Ex 34, 21) como uma clara tradição da Antiga Aliança (Velho Testamento) e não, obrigatoriamente, professado pela tradição cristã (Nova Aliança ou Novo Testamento).
Como assim?
Vou explicar.
Vemos em João 9, 14: “Ora, era Sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos”, portanto Jesus curou no Sábado, violando o dia do descanso judeu, despertando o ódio dos doutores da lei. Logo em seguida lemos em João 9, 16: “este homem (Jesus) não é um enviado de Deus, pois não guarda o Sábado”. Outros replicavam: “Como pode um pecador (um violador do Sábado) fazer tais prodígios?”. Aí, justamente aí, no meu entender, começa a perseguição ao Cristo Nosso Senhor. Na violação do Sábado começa a perseguição de Cristo. Ou seja, o Sábado foi um dos motivos da perseguição e condenação de Jesus. O Autor judeu, Hugo Schlesinger, no verbete “Shabbath” faz uma precisa definição contextual do “Sabado Judaico”. Vale à pena consultar. O Shabbath é o Norte do judaísmo, não do Cristianismo.
Ao tempo de Jesus, claramente, poderemos ler em NT, as violações do Sábado pelo Cristo enquanto autor de cura, tais como: Transportar um leito João (5,10), texto onde Jesus novamente viola o Sábado: “É Sábado, não te é permitido carregar o teu leito” e procuravam saber quem o havia curado (em dia de Sábado), pois era paralítico. Já em Marcos (3,2) lemos: “Ora, estavam-no observando se o curaria no dia de Sábado para o acusarem”. Em Lucas (13,14) lemos: “Mas o chefe da Sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no Sábado, disse ao povo: São seis os dias da semana em que se pode trabalhar; vinde, pois nesses dias para vos curar, mas não em dia de Sábado”.
Jesus Cristo, Nosso Senhor, diversa vezes investiu claramente contra o Sábado, textos que podemos ler em: Lucas (13 10-17); (14, 1-6) e em João (5, 8-18) onde lemos: “Por essa razão os judeus, com maior ardor procurava-lhe tirar a vida”; porque não somente violava o Sábado, mas afirmava ainda, que Deus era seu Pai e se fazia assim igual a Deus”. Essa acusação de blasfêmia (a violação do Sábado e o igualar-se a Deus resultou na sua condenação e condenação de Cruz como podemos ler em São João (10, 31-42). Os Mestre Judeus condenaram o Messias Judeu. Condenaram “O Pacifico”. Todavia Humberto Porto nos chama a atenção de que Jesus Nosso Senhor tem autoridade para abolir o Sábado , o que lemos também em Marcos (2, 27- 28): “O Sabado foi feito para o homem, e não o homem para o Sábado” e ainda; em (Mc 2, 28)” e para dizer tudo, o Filho do Homem é senhor também do Sabado”. Ou seja, Jesus tem poder sobre o Sábado (Shabbath) Judaico como lemos em: (Mt. 12,1-8).
Jesus Cristo é a linha divisória entre as antigas tradições judaicas e a Nova Aliança, aliança essa, definitiva. ( II Cor 3, 13-18).
Como vemos, o Velho Testamento (escrituras e tradições judaicas) difere do Novo (escritura e tradição cristã, não em poucas coisas, nem em coisas sutis. O Novo Testamento Supera o Velho, que lhe antecede apenas como se fora um preambulo, um anuncio do nascimento de Cristo. Os documentos cristãos aceitam em primeiro lugar a Divindade de Cristo (primeiro ponto, pelo qual Cristo foi acusado de Blasfêmia) como sendo Ele a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade; aceita igualmente a ressurreição de Cristo, e, portanto a ressurreição da carne (cujo ponto São Paulo dirá: “é vã a fé se não creres na Ressurreição” (I Cor 15, 14-15-16) e aceita e propaga com firmeza a Santificação do Domingo, (dia da Ressurreição); aceita, enfim, o Magistério Infalível da Igreja de Pedro (colégio dos Apóstolos presidido pelo Papa), presidida então, ao tempo inicial pós morte, pelo Pedro (cabeça = Céfas = céfalo, assim encéfalo, o que esta dentro da cabeça) a quem Jesus chamou Céfas, o pescador judeu convertido pela vocação de Jesus, que se fazia cristão pela vocação direta, pessoal, de Nosso Senhor, (segue-me, eu te farei pescador de homens), tornando-se assim, o príncipe dos apóstolos, a pedra angular da Igreja, essa, a Igreja, verdade seja dita, constituída como Igreja (eclesia = assembléia = corpo místico de Cristo) pelo próprio Cristo nas palavras “Pedro tu és a pedra e sobre ti erguerei a minha Igreja. (eclesia = assembléia)” e, finalmente, pelo “Mandamento do Amor” que rompe definitivamente com o sectarismo racial hebraico, fonte de tanta discórdia.
Portanto, os três motivos principais, da condenação de Cristo, ( 1) a Divindade e (2) a violação do Sabado, e ( 3) a ressurreição da Carne (I Cor 15,23; I T s 4,15; II Cor 5,1-4) é que, como conseqüência direta da ressurreição, por mérito próprio, confirma, ao ver dos teólogos, tanto a divindade, como o poder de Jesus Cristo, sobre a Vida, e acima de tudo sobre o Sábado. São esses os emblemas da Fé Cristã, dos quais não podemos abrir mão. Se abrirmos mão desses emblemas, expresso em detalhes no Credo deixamos de ser cristãos, e fazemos de Cristo um ser menor, dando continuidade ao pensamento judaico.
Acontece, ainda, para melhor explicar, que Jesus, vencendo a Morte pela ressurreição, e “rendendo” os homens, pela morte obediente na Cruz, e ressuscitando ao terceiro dia, abre uma clara questão. Qual?
Vejamos: morre Jesus na Sexta Feira, permanece no túmulo de José de Arimatéia no Sábado, e ressuscita, no terceiro dia, portanto no primeiro dia da semana judaica. Esse o “Primeiro Dia do Cristianismo Místico”, dia da manifestação da Gloria e Poder do Senhor, que desde os primeiros tempos do cristianismo, passa a ser cultuado, e terá um nome, em aramaico (língua que os hebreus falavam ao tempo de Cristo) que nos é transmitido por João em Ap. 1.10 (Dia do Senhor), com o mesmo significado em grego e em latim. Em grego, segundo o “Curso de História Bíblica” da Escola Mater Ecleesia, dizia-se Kyriaké Hemera, ou seja, “dia senhorial”, (dia do Senhor) igualmente, já, traduzido para o latim, dizia-se “Dominica Dies” (dia do Senhor (dia do Poder)); donde dominga, ou Domingo em português, expressa um dia claramente mais importante que o Shabbath judeu, o luminoso dia em que Cristo ressuscitou. ( os judeus traduzem esse dia como o dia em que dominaram Jesus) Esse dia, no entanto, tornou-se a pedra de toque da identidade cristã. Embora, como poderemos ler em “História da Igreja” do Padre Negromonte, essas primeiras fieis comunidades cristãs, todas elas formadas e constituídas por judeus conversos, como Pedro, Paulo, Maria, João, José, demais apóstolos, assim como milhares de judeus de Roma ou Alexandria (no Egito), etc. e é certo que, nos diz Negromonte, que tiveram divergências iniciais quanto às outras tradições do judaísmo tais como: a circuncisão (At 15, 1-3) ou não, o batismo (At 19) ou não, e o Shabbath, ou não (em textos já citados), pois estavam todos, por serem recém saídos das tradições judaicas, inseguros e tinham suas dúvidas (daí a importância de Pedro o apóstolo dos judeus presidindo a assembléia).
Como o cristianismo crescia rapidamente no seio dos judeus, os judeus não convertidos, fazem um sínodo, por volta do ano 100 DC, o sínodo de Jaminia, ou Jabnes, estabelecendo restrições a algumas “escrituras cristãs” visando a defesa da religião israelita e contra o crescimento do cristianismo, resultando na glosa de algumas escrituras, livros e textos. Serão essas mesmas glosas judaicas, que curiosamente serão adotadas por volta de 1450, pelos chamados protestantes, ou seja, aqueles que protestavam contra a Igreja e adotam o Cânone Judeu, assim, os dissidentes, sobremodo o monge “católico” agostiniano Martinho Lutero, que o adotam, e como resultado dessa adoção, levou-os a voltarem, entre outras coisas, a algumas velhas tradições israelitas como o Shabbath, (guardar o Sábado) e iniciaram possivelmente instrumentalizados, o ataque sistemático, gratuito e injusto ao Domingo Cristão, e por conseqüência ao Magistério Eclesiástico, assim como também à fração do pão eucarístico, à sucessão apostólica, ao culto das imagens, justamente porque ele, o Domingo, rompia definitivamente a tradição israelita e o sectarismo racial hebraico.
O Sabado de Aleluia, contraditoriamente assim chamado, tempo de luto para os discípulos de Cristo, só poderia ser motivo de alegria (aleluia) aos algozes de Cristo, que gritavam, matamo-lo, viva, vencemo-lo, aleluia. Submetemos ao Messias. Os discípulos, pelo contrario, amarguravam seus corações.
Poucos são os historiadores que lembram, aos estudiosos da religião, que boa parte da Europa em 1450, e anos anteriores, estavam subjugados pelos muçulmanos, que também não aceitam a divindade de Cristo e o “transformam” em um profeta menor, superado segundo eles, plenamente por Maomé. Assim também, judeus, em grande numero, vivendo na Europa, influenciavam os movimentos de protesto contra o poder temporal da Igreja, pois a religião israelita, não esqueça você, nega Jesus como o Messias (O Cristo), e espera outro, o Messias Israelita que virá restaurar a grandeza da Israel Temporal, como Senhor do Mundo.
O Cristianismo, diferentemente, nascido, é verdade, no seio de Judeus, toma Jesus Cristo, o prometido à “Casa de David”, o Messias, o acolhe e defende que a Igreja, sendo o Corpo Místico de Cristo, é a Israel Celeste, universal na sua vocação salvítica do Mandamento do Amor, ou seja, diferentemente, o judeu advoga o advento de um Anticristo, alguém que virá desmentir ao Cristo Nosso Senhor. Essa a verdadeira motivação das manobras que se escondem por detrás da luta político religiosa da Idade Media e início da Moderna, (envolvendo Ingleses, Holandeses, Franceses e Alemães, judeus e arabes contra, básica e principalmente Itália, Portugal e Espanha, cujos reis católicos (atacados, eram como que “Cavalos de Tróia”, que escondiam em seu bojo, o ataque direto à Igreja). Os Reis Católicos ampliavam muito seu poderio retomando a Europa dos muçulmanos, e dos judeus, ao mesmo tempo em que os turcos (arianos) invadiam Constantinopla, criando um fenômeno, pelo interromper das rotas terrestres, que iria forçando o Cristianismo a expandir-se ainda mais por novos caminhos marítimos, perturbando assim, a ordem “econômica” da Europa e dilatando o Cristianismo. Tais movimentos de resistência à Igreja visavam objetivamente à demolição da pedra fundamental, escolhida pelo próprio Cristo Nosso Senhor, para ser, incontestavelmente a Igreja de Cristo, que dava , é verdade, todo o fundamento e a motivação para tais reinos católicos, dos quais devemos a Civilização Pacífica que desfrutamos, embora não sem lutas.
Finalizando: A Origem apostólica do Domingo fica atestada de forma insofismável e clara, como o “Dia do Senhor”, e também como o dia da vitória sobre a morte e também sinaliza o recebimento do Dom do Espirito como poderemos ler e confirmar em: Mc 16, 14-18; Lc 24, 36-49; Jo 20, 19-23. Oito dias depois, portanto, novamente no primeiro dia, no Domingo, também esta assinalada a importância do Dia do Senhor, quando se manifesta Cristo, ao apostolo São Tomé Jo 20, 26-29.
No ano de 56, São Paulo (Fariseu e Doutor da Lei) atesta a observância do Domingo (“em cada “primeiro dia da semana”, diz ele” em 1 Cor 16, 1-3). Em “Atos dos Apóstolos”, igualmente, poderemos ler: “No primeiro dia da Semana ( Domingo) estando nós reunidos para a fração do pão ( celebração eucarística), Paulo entretinha-se com eles (At 20, 7 e seguintes), mostrando que a Eucaristia era solenemente celebrada no domingo desde o tempo dos apóstolos.
No século terceiro, sempre lembrando que ainda não existia o protestantismo, nem as questões políticas da Idade Media, encontraremos um texto conhecido como Didascalia Apostolorum (ensinamentos dos Apóstolos... sobre a Unidade), que faz referencia ao Domingo como dia emblemático dos Cristãos: “Que ninguém seja causa de detrimento para a Igreja pelo fato de não comparecer; nem seja o Corpo de Cristo destituído de um de seus membros... Não vos enganeis a vós mesmos nem priveis nosso Senhor de seus membros, nem esfaceleis ou disperseis o seu Corpo. Não anteponhais vosso assunto à palavra de Deus; mas deixais tudo no dia do Senhor (Domingo) e acudi com diligencia as vossas assembléias, pois aqui esta o vosso titulo de louvor. Se não o fizerdes, que desculpa terão diante de Deus, os que não se reúnem no dia do Senhor (Domingo) para escutar a Palavra da vida e nutrir-se do alimento divino, que permanece eternamente”
Até o ano 313, enquanto o Império Romano ainda não se convertera, (embora a conversão dos pagãos houvesse começado pelo próprio Cristo com a conversão de Cornélio, o centurião romano, o primeiro não judeu a ser convertido, pois a verdade é que a grande maioria dos conversos era judia) os judeus cristãos, assim chamados, celebravam a missa no Domingo, com dificuldades é verdade (nas Catacumbas), pois esse era dia de trabalho no Império Romano, o que tornava essa observação difícil. Era difícil a sua observação, porque os romanos perseguiam aos cristãos. Assim, o Concílio de Euvira, na Espanha, define em 305 “se alguém se encontrando na cidade, deixar de comparecer a Igreja durante três domingos, será privado, por algum tempo da Comunhão para que veja que precisa de se emendar”
Em 321, com a conversão do imperador Constantino (não judeu) decreta-se para todo o Império o dia festivo, o Dia do Sol (no calendário Romano) correspondente ao Domingo, e correspondente ao primeiro dia da Semana Hebraica. (vemos ai, o mesmo fenômeno ocorrido com os judeus-cristãos, certa resistência inicial, dos romanos, em largar definitivamente os símbolos do calendário romano assim como aos judeus–cristãos era difícil largar as arraigadas tradições hebraicas).
Portanto, celebrar o Domingo, é confessar-se Cristão Verdadeiro, é deixar para trás as precursoras tradições hebraicas, é na verdade, confessar e celebrar abertamente a ressurreição de Cristo. A Vitória do Pacífico.
Finalmente, leremos em Mt. 12 6-7-8: “Ora, eu vos declaro que aqui está quem é maior que o templo. Se compreendêsseis o sentido da palavra: Quero a misericórdia e não o sacrifício... não condenaríeis os inocentes (incluindo Cristo). Porque o Filho do Homem é também senhor do Sabado”. Ë óbvio que Mateus escrevia para judeus não convertidos e espalhados pelo mundo. Ora, mas se a Igreja é o Corpo Místico do Filho do Homem, a Igreja também tem poder sobre o Sábado.
Termino esse texto, feito com muito capricho, na esperança de que seja lido, e meditado, por você, da mesma, atenta e respeitosa maneira, com que nós, os católicos, assistimos ao Programa Evangélico de Tv sobre o Shabbath “Adventista”.

Texto terminado em 19/8/2007.

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