Jornal Folha de Londrina 19 de junho 2001
O quadro energético mundial.
Relendo um sumário do relatório da ONU ( publicado pela Abril Cultural) sobre o quadro energético mundial, encontrei fatos bem interessantes e muito importantes em relação ao Brasil. A primeira coisa que nos chama a atenção é que 90% da energia consumida no Primeiro Mundo provêm do carvão mineral, gás natural e do petróleo. Essas são reservas naturais não renováveis e devem durar, em média, pasmem, 113 anos.
Como o relatório é datado de 1994, podemos então afirmar que essa média de reservas estará por volta dos 106 anos. O mundo desenvolvido caminha para uma crise sem par se essas informações forem exatas e verdadeiras. O mundo subdesenvolvido, não tão dependente de energia, caminhará mais ou menos como caminha, com fome, desemprego e doenças, mas sobreviverá, pois são menos dependentes do consumo energético. Os ricos cairão no desespero.
Outra serie de fatos que nos parecem significativos são os seguintes: 1) Alguns países do hemisfério norte americano consomem mais do que produzem, ou seja, estão sempre importando energia de modo a conservar suas reservas ditas estratégicas.
(2) Na Europa, o quadro é um pouco mais agravado, porque se gasta muito mais do que se produz, ou seja, também importa dos países de Terceiro Mundo a energia de que necessitam.
(3) América do Sul, Ásia, África e Oceania produzem mais do que consomem, logo estão alimentando os países de Primeiro Mundo.
(4) O país de Primeiro Mundo desde a Segunda Guerra mantém reservas estratégicas, logo se esforçam para consumir energia gerada mais barata nos países pobres. Pode-se concluir que não podem admitir que os países pobres façam restrições nas suas reservas naturais ou exportações; 5,40% da energia do Primeiro Mundo é produzida pelo petróleo, 27,5% é produzida pelo carvão mineral. 21,9% são produzidas pelo gás natural e 7,5% produzida por fissão nuclear e 2,6% por hidrelétrica.
Primeiro os países desenvolvidos enfrentam problemas de poluição. Segundo, seus rios caudalosos são planos, o que dificulta a construção de hidrelétricas, que alagariam grandes áreas agricultáveis. Terceiro, suas experiências com a energia atômica têm sido, em alguns casos, desastrosas e geram um lixo atômico que eles pretendem lançar no espaço, pois não há ainda o que fazer com ele aqui no Planeta. Ora, parece óbvio que o Terceiro Mundo ficará encarregado de produzir energia e poluição para que o mundo rico possa manter o seu status e sobreviver, ou haverá de espalhar-se pelo mundo, rompendo políticas, nações e culturas, impondo seus interesses à custa de ferro e fogo.
Agora vejamos o Brasil. Antes de descrever o nosso quadro é preciso explicar que o relatório da ONU fala em fontes não renováveis e as renováveis. São renováveis as hidrelétricas, a energia solar, eólica, e a biomassa, que produz carvão vegetal, gás e álcool.
No Brasil, temos reservas de petróleo não otimizadas. Possuímos, no subsolo, material radiativo não utilizado. É farta a reserva de gás natural para as necessidades. Faltou-me informação quanto ao carvão mineral, principalmente o produzido em Santa Catarina. Porém, o que mais chama a atenção é o crescimento da nossa produção mineral, principalmente de cobre, bauxita, ferro, ouro, chumbo e manganês.
Quanto à energia produzida, principalmente a elétrica, o fazemos através de hidrelétricas, fonte renovável e pouco poluente. O Proálcool mostrou a viabilidade de produção em alta escala em álcool combustível e gás, o que garantiria não só larga produção de energia elétrica, como também setores do transporte substituindo derivados do petróleo. A insolação do território brasileiro, fora das grandes massas poluentes, o faz uma região favorável ao aproveitamento da energia solar.
Experiências feitas pela Copel, no Paraná, na região de Palmas, mostram a capacidade eólica de produção de energia elétrica. A energia eólica já foi aproveitada na história humana tanto para mover moinhos de grãos como navios durante as grandes descobertas. Nesse contexto, sem citar números porque ainda não estudei os documentos da Eletrobrás e da Petrobras, que já estão ao meu alcance, posso dizer que o Brasil desponta no Terceiro Mundo como uma das maiores promessas. Caindo a produção dos países ricos, eles se desesperam e partem para um novo tipo de colonialismo – o ideológico e o comercial.
Apregoa-se para o mundo que é um dinossauro, tendente a extinção, o país que defende a sua soberania e seu nacionalismo. Na verdade, os grandes dinossauros que são os países ricos é que estão a ponto de sucumbir energeticamente e se extinguir. Nós, o pobre, por incúria ou por providência, nos tornará, se soubermos resistir à pressão de vender nossas riquezas, os novos termômetros de um mundo novo.
O Brasil e nenhum brasileiro podem esquecer-se desse detalhe. Nunca em 500 anos de história, tivemos outro país para explorar. Fomos isso sim, uma mãe generosa a alimentar a todos os que aqui vieram. Porém, essa mãe não descuidou dos seus filhos, eles cresceram e têm agora suas próprias necessidades. Nós brasileiros, precisamos assumir as responsabilidades que a nossa Mãe-Pátria nos legou por força de sua fertilidade. Agora cabe bem gerir nossas riquezas e, resistindo às novas seduções dos países ricos, fazer valer, em comunhão com outros países de Terceiro Mundo, os nossos direitos de autogoverno.
WALLACE REQUIÃO DE MELLO E SILVA é psicólogo em Curitiba
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