Por: Olimpio Araujo Junior*
A providencial confusão sobre o que realmente são transgênicos e o que os diferem do melhoramento genético tradicional acaba “convencendo” a opinião pública e até altas autoridades, de que não há perigo no uso deste tipo de biotecnologia. E os riscos reais, apesar de irreversíveis, são menosprezados.
Todos os organismos vivos são constituídos por conjuntos de genes. As diferentes composições destes conjuntos determinam as características de cada organismo. Essa composição é chamada de genoma e é formada por genes. O que faz um animal ser diferente de uma fruta ou de um ser humano é o genoma que possui. Entre indivíduos da mesma espécie, existe variedade genética, fundamental para a viabilidade da própria espécie já que resulta em indivíduos diferentes entre si, com capacidades distintas de adaptação ao meio. Porém, indivíduos da mesma espécie têm genomas iguais.
Os Transgênicos, ou OGM-T (Organismo Geneticamente Modificado Transgênico), são plantas criadas em laboratório com técnicas da Engenharia Genética, que consistem na transferência de um gene responsável por determinada característica num organismo para outro organismo, manipulando sua estrutura natural, modificando seu genoma. Não há limite para esta técnica. É possível criar combinações nunca imaginadas entre animais, plantas e bactérias.
Os defensores dos transgênicos afirmam que a humanidade vem consumindo alimentos obtidos de organismos geneticamente modificados sem que eles tenham causado algum dano à saúde e, portanto, não haveria razão para ser diferente com os alimentos obtidos de processos transgênicos.
De fato, alimentos são obtidos de organismos geneticamente modificados. Mas estes alimentos foram produzidos por processos naturais, com a transferência de genes apenas entre organismos da mesma espécie, com genomas iguais.
Alimentos obtidos de “organismos geneticamente modificados” e alimentos obtidos de “organismos geneticamente modificados transgênicos” não são a mesma coisa. Um gene transferido a outro organismo pode resultar numa manifestação de características com resultados imprevisíveis, diferentes das reações esperadas. Eles podem aumentar a resistência a antibióticos, podem causar alergias, podem contaminar plantações vizinhas, podem romper o equilíbrio entre insetos-praga e seus predadores. Mas o pior risco está na irreversibilidade: uma vez liberados na natureza, não é mais possível restabelecer o equilíbrio ambiental, porque não se pode controlar os processos de transgênese espontânea, que porventura venham a ocorrer, e é impossível retirar da natureza os genes que foram artificialmente introduzidos numa planta, externamente igual às variedades da mesma espécie, não transgênicas.
Recentemente foi demonstrada, em pesquisas de universidades americanas, a possibilidade de transferência espontânea, para plantas silvestres da mesma família ou para insetos, dos genes introduzidos numa variedade cultivada. Por exemplo, os genes introduzidos em espécies cultivadas para torná-las resistentes a herbicidas podem transferir-se espontaneamente para plantas silvestres com risco de torná-las superervas daninhas, de difícil controle. Em culturas como milho e algodão, foram introduzidos genes retirados da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), usada como inseticida biológico contra lagartas. Ocorre que os genes transferidos causaram o efeito inverso, aumentando a resistência de mariposas à Bt. E as lagartas destas mariposas passaram a atacar tanto as culturas de milho e algodão, como várias outras e, inclusive, algumas plantas silvestres.
Outro risco para agricultura é que os transgênicos podem afetar a vida microbiana no solo e reforçam a tendência à uniformidade genética na agricultura, com grandes monoculturas, utilizando umas poucas variedades da mesma espécie (o que aumenta a suscetibilidade à mudanças climáticas e surtos de pragas e doenças). Toxinas como a Bt ou os genes de resistência a agrotóxicos podem ser incorporados ao solo junto com resíduos de culturas, afetando invertebrados e/ou microorganismos, que têm importante função na reciclagem de nutrientes para uso das plantas ou podem afetar a capacidade de multiplicação no solo das bactérias responsáveis por retirar nitrogênio do ar e permitir a fertilização natural.
E se os impactos ambientais resultantes do cultivo de transgênicos são irreversíveis, as conseqüências na saúde humana ainda podem ser piores do que somos capazes de imaginar. A natureza é uma grande teia e se o seu equilíbrio for quebrado, sobretudo a este nível – do código genético - as conseqüências afetarão todas as formas de vida, em um grande efeito dominó.
* Olimpio Araujo Junior (olimpioaraujojr@yahoo.com.br) é técnico em agropecuária, geógrafo, mestrando em Redes Virtuais de Informação e Educação Ambiental e consultor ambiental. (http://www.ambientetotal.cjb.net/).
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