Kadafi convoca população a derrotar agressores da Líbia
Kadafi distribui 1 milhão de fuzis ao povo para que “defenda a honra e o petróleo” do país. Em novo discurso em Trípoli, afirmou: “Estamos prontos para a batalha, seja longa ou curta. Vamos vencer”
Já está em avançado estágio de execução a ordem, dada pelo líder Muamar Kadafi no dia seguinte ao início dos bombardeios contra a Líbia, de abrir os arsenais e distribuir 1 milhão de fuzis Kalachnikovs à população, para que “defenda a honra e o petróleo” do país. Em novo discurso ao povo, desta vez desde sua residência em Bab Al Azizia – que Reagan e Obama já bombardearam -, Kadafi afirmou que os agressores são “um bando de fascistas que acabarão na lata de lixo da história”. “Estamos prontos para a batalha, seja longa ou curta. Vamos vencer”, anunciou o chefe da revolução líbia. “Não vamos nos render”.
Ele fez o discurso – o terceiro em uma semana - da sacada de sua residência, perto das ruínas da casa destruída no ataque aéreo contra Trípoli cometido por Reagan em 1986, mantidas tais como ficaram, e do célebre monumento da mão que esmaga um bombardeiro norte-americano. Obama, o Prêmio Nobel da Paz, já bombardeou duas vezes o local em uma semana, e deve vir mais, mesmo caso o comando da intervenção seja passado adiante. “Aqui estou, na minha modesta tenda”, assinalou Kadafi, ironizando a onda de boatos, desencadeada pelo inimigo, sobre seu paradeiro. “Não vou deixar a Líbia. Vou ficar aqui; é a minha pátria, o meu lar”.
MÍSSEIS GRAD
Dirigindo-se à multidão que o acompanhou à Praça Verde, o líder líbio assinalou: “aqui está o povo. Kadafi está no meio do povo. Eis a mais poderosa defesa antiaérea, o povo”. Nos arsenais líbios, há 2.000 mísseis antiaéreos de ombro de fabricação soviética, os Grad. Ele saudou, ainda, as manifestações em todos os lugares do mundo – que já estão sendo feitas ou sendo marcadas – “contra esse ataque injusto que viola os princípios das Nações Unidas”.
A orientação de Kadafi – armar a população contra o agressor externo -, vem sendo seguida à risca. Já empunhando o trabuco no serviço, o âncora do jornal da televisão líbia disse no ar: “Que outro líder no mundo teria a coragem de armar a população, caso não confiasse no seu próprio povo?” Outra medida anunciada pela Líbia, uma marcha “com ramos de oliveira”, de todas as tribos líbias, até Benghazi, também está em preparação; a tribo Warfalla, com mais de um milhão de membros, a ainda maior Meegarha, a Tarhuna e a Kadadfa já anunciaram participação. Kadafi, que tanto fez para a superação da divisão entre tribos, trata de combater fogo com fogo: contra a manipulação de tribos contra a unidade nacional líbia, o avanço da consciência dessas tribos para defender o país.
Em cinco dias de bombardeio feroz, a coalizão de bucaneiros despejou sobre as principais cidades líbias quase 200 mísseis Tomahawk e centenas de bombas, assassinou mais de uma centena de civis e feriu um número ainda maior, socorreu as gangs, mas não conseguiu deter a resistência da Líbia à pilhagem e à partição do país. O que foi reconhecido pelo comando invasor.
Contra a terceira maior cidade líbia, Misrata, foram 12 horas seguidas de bombardeios com avião e mísseis Tomahawk na quarta-feira dia 23, na tentativa de abrir caminho ao retorno dos mercenários. Bombardeio também de Ajdabia, estratégico entroncamento no rumo de Benghazi, o reduto das gangs patrocinadas pelos países ocidentais. 12 horas de mísseis e bombas norte-americanos, ingleses e franceses, mas, na contrapropaganda da mídia, foram os tiros do pessoal do Kadafi que “mataram civis” ali. Para salvar as cidades líbias de bombardeios aéreos que não existiam - como o Estado Maior russo revelou, e até o “Guardian” inglês admitiu -, a aviação estrangeira está realizando um banho de sangue nessas mesmas cidades. Contra Trípoli, é bombardeio toda a noite, e também de dia. Boa parte dos Tomahawks teve a capital de alvo.
Só nos três primeiros dias de bombardeio, o total de civis mortos ultrapassou a casa dos cem, com um número de civis feridos três vezes maior. Foram atingidos três hospitais, estradas, pontes, casas, ônibus e carros. O quadro se repetiu na quarta-feira 23, como descrito pela agência de notícias líbia “Jana”. “Os bombardeios do agressor colonialista cruzado contra a área de Tajura, em Trípoli, atingiram um bairro residencial deixando um grande número de mortos entre os civis”, revelou a agência. Quando chegaram as equipes de socorro, o terceiro raid, que “atingiu os que retiravam mortos e feridos dos dois primeiros ataques”; as sirenes “não paravam de tocar no centro de Trípoli e no bairro de Tajura”, registrou a AFP.
A ponto de, na terça-feira 22, Rússia, China e Índia, em comunicados separados, advertirem sobre a morte de numerosos civis em consequência dos bombardeios aéreos cometidos sob alegação da “Resolução 1973” e denunciarem o banho de sangue. Também a Alemanha – que havia se abstido da votação da “zona de exclusão aérea” - tirou seus navios e pessoal do Mar Mediterrâneo do controle da Otan, para não se meter na aventura de uma guerra contra a Líbia. Outros países, inclusive o Brasil, fizeram apelos por um cessar-fogo. A União Africana – de que Kadafi foi o principal instigador - manteve sua posição de defesa “da soberania e integridade territorial da Líbia”.
Quanto a quem assassina e quem protege civis, são os próprios autonomeados protetores vindos do norte que revelam, às vezes em atos frustros. O vice-almirante-do-ar que comanda pelo Reino Unido o ataque gabou-se na quarta-feira de que suas forças alcançaram “a quase impunidade” no espaço aéreo líbio. “Quase impunidade” – se isso não é uma confissão de um criminoso de guerra, o que mais seria?
Embora os dois pilotos do F-15 dos EUA que se esborrachou no chão dificilmente compartilhem dessa alegria. Aliás, nem o primeiro-ministro inglês, David Cameron, aquele que não esconde – nem seus dois ministros - sua vontade de matar Kadafi. “Não dá para despejar democracia de 40.000 pés de altura”, disse na semana passada. É. Não dá para extrair petróleo a partir do alto, de B-2, nem de F-18. E com um milhão de armas nas mãos do povo ....
ANTONIO PIMENTA
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Há 8 anos
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