quinta-feira, 4 de junho de 2009

Homem do Campo

Homem do Campo.

Meu filho de dezoito (hoje com 32) anos quer ser fazendeiro. Uma rara vontade nos dias de hoje. Brinco com ele dizendo que passarei nas Casas Pernambucanas e comprarei duas ou três fazendas. Fica uma fera.
Acontece que meu filho nasceu na cidade e não teve uma vida de campo como tivemos eu e meus irmãos. Ele simplesmente não sabe o que é uma fazenda, suas alegrias e seus suores, suas vantagens e desvantagens. É por isto que estranho tal vocação.
Parece que cada dia que passa menos pessoas querem viver a vida do campo. Migram anualmente aos milhares para as cidades. Por quê?
Sem aprofundar o tema e analisando apenas a minha história pessoal, os meus longos anos, atribuo algumas causas.
Os primeiros responsáveis pelo fenômeno migratório dos anos 50 para cá, foram os militares. Estes retiravam jovens do campo para servir o exercito nas cidades e lhes ofereciam sem o saber um ambiente que lhes convenciam a não voltarem para o lugar de origem.
Seguem-lhes os professores e o sistema de ensino nacional que divulgam uma ideologia, um conjunto de valores que vêem no homem urbano e no cidadão “universitário” uma meta e o espelho, quase um sinônimo do progresso individual e da melhoria financeira o que é falso.
Em terceiro lugar contribui para o fenômeno a economia destes últimos anos e o tipo de industrialização e serviços voltados para a necessidade de exportação, assim como a mecanização do campo e a monocultura como conseqüência de pacotes internacionais que expulsam o trabalhador rural. Resultado, migração.
Em quarto lugar a ganância dos latifúndios, os sistemas bancários e a injusta assistência dos governos fazem a vida das pequenas propriedades bastante árdua. Finalmente temos os meios de comunicação que, principalmente nas últimas duas décadas, vendem as cidades, sua “moral”, suas fantasias, seus confortos, sua multiplicidade profissional mostrando uma classe social idealizada e uma vida econômica irreal.
Por outro lado estes mesmos meios de comunicação se omitem diante da importância do campo, ou propositadamente ridicularizam o campesino destruindo-lhe os valores.
Mas é preciso lembrar, todos comem. E ninguém quer plantar, cuidar do gado e das criações, armazenar, irrigar a terra... Em fim cuidar da terra... que é muito mais do que preservá-la “intocada” como querem alguns ecologistas.
Todos vêem o problema que começa a avolumar-se, inchaço nas cidades, evasão do campo e diminuição da comida num fenômeno quase universal. Nós brasileiros não podemos deixar de ver que possuímos o melhor espaço hidro-agro-pecuário do mundo. Esta é a nossa verdadeira riqueza. Num futuro negro os homens não beberão gasolina, ou comerão dólares, ou rubros, ou ainda ienes, por melhor que seja a qualidade do papel moeda. Também não nos serão digéstos os computadores, os automóveis, os soros hospitalares ou as vitaminas sintéticas e os canhões e metralhadoras. Tudo indica que ainda necessitamos e necessitaremos por muito tempo de um bom prato de comida. Quem a tiver terá a mais necessária das riquezas. Um homem faminto e sedento larga o ouro, o vídeo game e até as perversas novelas da TV.
Desenvolver, redesenvolver no povo paranaense e brasileiro o amor ao campo, à dignidade de ser fazendeiro e campesino, criador da vida e da saúde, é uma prova de inteligência e de visão de futuro, é quase um salvar o Brasil e quiçá o mundo inteiro.


Wallace Requião de Mello.



Nova postagem do Grupo de Estudos G 23 ( Curitiba Paraná Brazil)

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