Texto antigo, problema atual, embora muita coisa tenha melhorado.
Etnias ou minorias?
Recebi o novo calendário do Banestado. Coincidência ou não, soube ao mesmo tempo que um dos movimentos negros moveu ação judicial contra o banco. Ato inútil. O texto do novo Calendário é bem esperto.
Explico melhor: O calendário do Banestado comemora as etnias, o Paraná de Todos Nós. A intenção é ótima, genuína, mas concorre para o mesmo erro que já havíamos denunciado em outro artigo, a grave manifestação de certos preconceitos que falsificam a realidade humana e étnica do nosso estado.
Festejam-se as etenias ucraina, polonesa, italiana, japonesa, suíça, árabe, judia, italiana, espanhola, portuguesa (até que em fim) e omite-se a negra e a india. É sempre assim.
Nós já havíamos escrito denunciando que todos os documentos oficiais de divulgação do estado, livros, folders, catálogos turísticos, mapas e cartões postais fazem sempre esta grave omissão.
Tempos atrás, fazendo uma pesquisa sobre a cidade de Curitiba, encontrei no inventário sobre a cidade à época de sua fundação, documento citado no livro do Professor Ernani Straube, que nos informava, que em 1693 Curitiba possuía uma população de 5.819 pessoas sendo que 4.102 eram brancos e 762 eram negros. Isto significa que perto de trinta por cento da população era negra naquela data.
Encomendei uma quantificação ao IBGE e com a ajuda do Renato Japonês, que é casado com uma negra, obtive os seguintes dados: em Curitiba, numa pesquisa por amostragem domiciliar, realizada em 1995 o IBGE acusa uma população negra de 27.199 e uma parda, miscigenada - mulata, de 484.964 pessoas. Ou seja, temos em Curitiba e região metropolitana mais de quinhentas mil pessoas com raízes negras.
Para o estado do Paraná o IBGE afirma que possuíamos em 1995, 139 mil negros e um milhão novecentos e vinte e seis mil mulatos- pardos. Este número não é nada desprezível. Por isto mesmo é grave a omissão dos documentos oficiais sobre a formação étnica paranaense. Mais grave fica se consideramos que todas as etenias acima citadas, exceção de portugueses e espanhóis, chegaram ao Paraná depois de 1850.
Índios, portugueses, espanhóis e negros são os verdadeiros formadores de nossa nação. Foram eles que enfrentado todas as dificuldades dos 350 anos anteriores à chegada de imigrantes (tão festejados) construíram a nação brasileira.
Onde esta o parque do Portugues? O Parque do Índio?
O negro tem a Praça do Zumbi, mas não o reconhecimento da sua presença marcante e eloqüente, até mesmo pela cor, nos festejos étnicos. Lamento.
Quanto aos índios, o IBGE afirma que são 19.878 no Paraná. A indigenista Luli Miranda confirma que são 2.000 guaranis e 8.000 Kaigangs os índios com que ela trabalhou nestes últimos anos.
Não consegui informação precisa sobre a população indígena à época do descobrimento. Mas o que quero dizer aqui, sobre índios e negros, e que fique bem claro, é uma critica construtiva, um alerta de que índios e negros tiveram, sem sombra de dúvida, uma contribuição muito maior à nossa história e cultura do que os imigrantes (minorias) festejados pelos documentos oficiais.
Ora se os imigrantes chegam, coincidentemente, no século das revoluções culturais, não se pode atribuir a eles o progresso material de nosso estado, posto que, também na Europa, os "progressos" chegavam depois de 1850. Portugueses, negros, índios e mestiços oriundos dentre estas três raças, foram sem a menor dúvida os responsáveis pela verdadeira epopéia histórica paranaense e brasileira.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Psicólogo
Nova postagem do Grupo de Estudos G 23 ( Curitiba Paraná Brazil)
Deus é um só!
Há 8 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário